As emoções também se educam

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  • Flavia Resende
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    Falar de emoções não é tarefa fácil. Sabemos que existem as emoções padrão que habitualmente estão associadas a determinadas respostas emocionais e fisiológicas, também elas de certa forma padronizadas (por exemplo, perante a morte de um ente querido eu sinto-me triste e fisiologicamente fico sem energia no corpo). Porém, sabemos também que as pessoas não sentem da mesma forma porque não vivenciam os acontecimentos da mesma maneira, no fundo, porque somos todos complexos e diversificados. Por isso, quando falamos em emoções é importante termos a noção desta abrangência tão grande na forma como é sentida e é expressa.
    Comecemos então pelo início. As emoções estão intimamente ligadas com os pensamentos e não tanto com os acontecimentos em si. E isto explica porque as pessoas não sentem todas da mesma forma. Em verdade, diante de um mesmo acontecimento, duas pessoas podem sentir emoções distintas, porque isso depende da forma como eu interpreto esse acontecimento. Naturalmente que, a forma como expresso essa emoção será também ela idiossincrática. Portanto, nós estamos a sentir e a expressar emoções constantemente. Porém perceber o que nos causou essa emoção nem sempre é fácil. Conseguimos identificar o acontecimento e, embora às vezes com dificuldade, identificar, corretamente, a emoção que estamos a sentir. Todavia, o que nos passou pela cabeça é que é mais difícil de registar. Compreender isto, para nós adultos, é complicado, imagine para uma criança. Por isso, é tão importante valorizar as emoções que a criança está a sentir. Se por vezes sentimos dificuldade em faze-lo, então coloquemo-nos no lugar dela, por uns instantes. Como é que eu me sentiria se quisesse muito uma coisa e não a pudesse ter? No fundo aquilo que separa os adultos das crianças não são as emoções que sentem mas sim a forma como as expressam e se comportam. Certamente que se pediu um aumento de ordenado ao seu patrão e ele recusou, não vai expressar a sua raiva a chorar compulsivamente e a atirar-se para o chão em frente a ele. Porém, uma criança que quer muito aquele brinquedo e diz-lhe que não o pode ter, perante a emoção de raiva que estará a sentir irá chorar, gritar e eventualmente até, atirar-se para o chão. É aqui que o papel de pai, mãe ou educador é tão importante, ajudar a criança a identificar e gerir as suas emoções. E isto é a inteligência emocional. Se é um trabalho fácil? Não, é sem dúvida, um trabalho árduo que exige muito de nós mesmos. Até porque nem sempre nos sentimos capazes de o fazer. Uma das melhores formas de ajudarmos a criança a gerir as emoções é nós próprios sermos capazes de o fazer. E ninguém nasce ensinado, no que a esta parte diz respeito. É muito importante fazermos um caminho de crescimento e desenvolvimento pessoal.
    Tornarmo-nos cada vez mais capazes de compreendermos, com clareza, aquilo que estamos a sentir, identificar os pensamentos que nos causaram essa emoção e depois gerir de forma mais ajustada e saudável essa situação. Se eu sou capaz de o fazer comigo, vou ser mais capaz de o fazer com os outros.
    Para o auxiliar a ajudar a criança a ser emocionalmente mais inteligente aqui ficam 5 dicas.
    1 – Valorize o que a criança está a sentir
    Valorize as emoções da criança. Se ela se sente triste porque derrubou um copo de água sobre o seu desenho, acabando por o estragar, não lhe diga que era apenas um desenho, porque para ela, não era apenas um desenho, era o seu desenho que fez com todo o gosto e que tanto valor tem para ela. Aproveite essa situação para falar sobre aquilo que ela está a sentir.
    2 – Não esconda as suas emoções.
    Partilhe com a criança aquilo que está a sentir. Permita que ela faça parte desses momentos bons e menos bons e aprenda com eles. Lembre-se que nós somos exemplos para os nossos filhos e, sem nos darmos conta, estamos a passar mensagens (mesmo sem falarmos) muito importantes que eles poderão modelar.
    3 – Aumente a sua literacia emocional
    Quanto mais capaz se sentir a identificar e gerir as suas próprias emoções mais sucesso terá a ajudar a criança. A forma como lida com a sua raiva ou tristeza terá impacto na informação que irá passar à criança.
    4 – Atribua nomes ao que está a sentir
    Não evite dar nomes ao que está a sentir. Sejam emoções positivas, como a alegria ou negativas, como a raiva, devem ser faladas, aceites e não evitadas.
    5 – Permita que a criança sinta o que está a sentir
    Ao ver a criança a sentir-se triste ou com raiva a tendência é fazermos o que está ao nosso alcance para que essa emoção desapareça, o mais rápido possível, e dessa forma, não permitimos que a criança aprenda a gerir a emoção. Aproveite essa oportunidade para ensinar a criança a lidar com as emoções, começando por aceitá-las. Não se esqueça que ao faze-lo está a prepara-la para o mundo real.

    As coisas mais importantes são muitas vezes invisíveis para os olhos – só com o coração é que podemos vê-las.
    O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry

    Flávia Resende, Psicóloga Clínica e da Saúde

    Janeiro 2019

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